POEMAS
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Globo Terrestre

 

DIANTE DO MUNDO


O homem intui, deduz,

faz história

e projeta-se no tempo.

Como ser cultural,

pensa que muito evoluiu e vai evoluir.

Chegou ao terceiro milênio da era cristã,

porém, não só construiu.

Ele mata, se mata, destrói a mata.

Encontra-se diante do mundo

e da incerteza do amanhã.

Olha para si mesmo

e pergunta:

Quem sou?

De onde vim?

Pra onde vou?

É o conflito; é o grito na garganta – que não sai;

é o sufoco e um soco no chão;

é a agitação do planeta; é a vida lá fora,

sem hora;

é a rua; é a ausência de “com licença!”;

é a morte das flores e dos amores.

É o próprio homem...

o ponto de interrogação (?).

Agora, eu pergunto:

não é a sua existência

a sua inquietação?

Desenfreada está a busca do ter.

E, o ser?...

Não?

Mas por um instante, autômato,

pensa que pára; não pára,

nem quando dorme.

Está sempre em evidência

e, além de si mesmo –,

percebe o mundo à sua volta:

a praça,

as pessoas,

o parque –

onde as crianças brincam...

Gritam...

enquanto que, o vaivém dos automóveis,

entre os edifícios, estáticos e,

enfileirados no lugar do verde,

deixa escapar um choque.

É a invasão do sinal!

É uma tragédia à frente...

É um homem no chão!!

Mas, diga-se de passagem,

acima de nossas cabeças –,

há naves espaciais...

Uma sonda a caminho de Plutão...

e, agora, na minha frente?!

O computador,

a tecnologia,

a internet,

o mundo em minhas mãos!

A ciência,

o progresso!(?)...

a velocidade, a ilusão.

E no meu aparelho

de microondas?

O meu sanduíche, – um torrão!

Estou no centro de uma metrópole...

na cidade do Salvador,

e me pergunto: cadê os montes?

E, as cavernas onde ficam?

E os seus bichos...

Fugiram?

Para onde?

E, o deserto dos homens

onde fica?

Muitos não sabem.

Mas o coração humano está crescendo...

e com ele a descoberta do fogo!

Quer chegar às estrelas;

quer descobrir o Paraíso...

mas vive a realidade conflitante

entre o ser e o existir.

Porém, é no seu interior mais íntimo –,

o labirinto dos sentimentos de finitude.

É o mundo que se esconde dentro de cada um, –

espaço do Sobrenatural.

É a vida! É a morte!

O dilema dos homens (???!!!...) –...

diante do mundo.

 

2006

 

O COVID-19

O corona vírus nasceu!

Onde? Temos uma vaga ideia.

Noticiou-se: – “lá do outro lado, no país mais populoso do mundo!...”

De lá, então, o nascituro vagiu e ganhou asas.

Voou o mundo sem certidão de nascimento e sem passaporte.

Desconheceu as fronteiras da ciência e da tecnologia.

Não prestou continência às autoridades no caminho...

E nem considerou sexo, etnia, origem, ideologia ou religião.  

Na sutileza de sua invisibilidade, abateu um ali, um acolá e um outro aqui.

Não fez e não faz alarido, não avisa: – estou chegando!...

Simplesmente chega sem máscara e despido.

Agora, pela primeira vez,

Precisamos ser mascarados de mãos lavadas,

E a receita é simples: água e sabão ou álcool em gel.

Mas, descuidando-se do isolamento,

O inimigo pode vir bem íntimo –, ou seja, no beijo, no abraço ou nas asas do vento...

Por certo, com o féretro ele se esvai; mas, há o que fica e se identifica:

Sou o Covid-19!

Eu existo...

Matem-me!

Uilson Oliveira

 

ONDE ANDA O POETA

 

Onde anda o poeta?

Aonde o poeta anda!

Ele anda, anda, anda,

não desanda.

Só o poeta anda.

Encontre o poeta que anda;

que não anda detrás da porta

nem da onda.

Aquele que você não encontra

e não sabe onde anda;

porque o poeta

anda dentro de você...

Solte, então, o poeta,

não deixe o poeta morrer!

 

 1992

Uilson da Silva Oliveira

 

 

SONETO DO INSTANTE

 

É um pequeno momento.

É pedir um pouco pra aguardar.

É o interlúdio do drama em atos.

É o espaço do ir ou ficar.

 

Não dar pra pensar muito,

Pois o assunto é a decisão.

O sempre é o presente por enquanto...

E no decurso do tempo há operação.

 

Dar-se-á a alegria ou tristeza.

Emerge, então, a inspiração

Ou o contraste da incerteza.

 

Porém, o beija-flor sorrateiro

Pode no arvoredo expressar,

O eloqüente instante da vida, amar.

 

  

Jacobina, 23/07/1987

Uilson da Silva Oliveira

 

CUIDADO

Cuidado! Cuidado!! Cuidado!!!
É o que muita gente diz (em muitas situações).
“Cuidado ao passar naquela rua!” (É muito perigosa!).
É o que muita gente diz.
“Cuidado com o trânsito!” (Tem motorista louco!).
É o que muita gente diz.
“Cuidado com a praia!” (O mar é bravo!...).
É o que muita gente diz.
“Cuidado com essa amizade!” (Tem gente que não presta!).
É o que muita gente diz.
“Cuidado com a casa!” (Tranque o portão!).
É o que muita gente diz.
“Cuidado com os animais!” (alimente-os!).
É o que muita gente diz.
“Cuidado com a mata!” (Lá têm bichos!).
É o que muita gente diz.
“Cuidado com essa gente!” (Elas sãos uns bichos!).
É o que muita gente diz.
“Cuidado com esses bichos!” (Eles são umas feras!).
É o que muita gente diz.
“Cuidado! Cuidado!! Cuidado!!!” (Com o que você fala!). 
É o que muita gente diz.



11/07/1992

Publicado em: 09/11/2010 14:11:27

 

ANTÍTESE EM HOMEM E MULHER

Será que um dia acabará 
o desejo que há em mim e que há em ti?
Aquele que palpita a maçã
e que gera o abraço afetuoso?
Aquele que nos leva aos afagos
e aos impulsos do beijo e do sexo?
E o que falar do anseio de viver?
Nessa dicotomia nos encontramos,
nos encorajamos, nos desencorajamos,
ou nos precipitamos pelo vínculo que temos;
e que fazemos na união dos corpos – 
amor de homem e mulher; mulher e homem. 
Eis a questão que me debruço;
que delego a outrem poderes sensatos; 
e que investiguem desalmados por hora de canto fúnebre. 
É que uns se amam, se é que se amam; 
outros, apenas se atraem e se descortinam dos sentimentos.
Estes são, sim, pobres... que se deleitam no prazer, 
se é que é prazer; – os toques singelos dos serenos corpos –
trêmulos                  sem paixão, sem vibração.
Assim, não ouvem cantos nem haverá encantos, sussurros 
ou gritos de prazer.
Será que é proibido gritar?!
Porque somente corações vazios...
deixam bocas sem palavras!
Já que a graça que confunde
é o sentimento que ainda não veio
e que está por trás da porta – 
porta que não mostra o mundo lá fora...
Há apenas uma fresta, um raio de sol,
uma cama envergonhada, uma parede branca à frente,
e os contrastes de uma figura –
que nada fala; nada responde. 
No silêncio nos sentimos a sós, juntos e separados pelo prazer (?), pela incompletude do ser-homem e do ser-mulher – em estado de humanidade, desde que caímos no Édem. 
Porém, só pela cruz, estaremos totalmente desnudados, um dia, – espíritos-sem-corpos-sem-sexos (ressurretos), no êxtase do amor – que nos transporta deste para o outro plano: O Arrebatamento.
Aí, então, se experimentará a dimensão do Divino-Amor; que não deixará em contradição – eu e você; você e eu em anonimato, se é que nos conheceremos frente aos mistérios; mistérios dos mundos sem ciências e sem ideologias – onde tudo começa e se encerra.
Ali não haverá mulher e homem, nem procriação, nem pátrio-poder.
Só um gênero, um só ser, o ser, – o Senhor!
com seu povo, sua semelhança – em congruente estado de contemplação...? Se é que cremos no porvir – no qual não haverá tempo, não haverá sol, nem cronologia, nem escatologia, mas o perfeito amor!
Amor de Deus sem mulher; amor de Deus sem homem – em plenitude... no qual nos entronizaremos e nos transfiguraremos sem contrastes, espécie de corpos espirituais na essência do Sacrossanto-Amor.  


Uilson da Silva Oliveira
21/11/1992

Publicado em: 11/11/2010 00:45:54

 

FACETAS DO MUNDO

Que mundo é este
onde se nasce, cresce e morre,
e nem sempre se satisfaz aos anseios mais profundos?
É o mundo, o palco de todos nós!
Nele sonhamos, sorrimos, choramos e amamos.

Que mundo é este
no qual muitos gostariam de ser felizes?
É o mundo das adversidades
em que a força impera sobre as manifestações.

Que mundo é este
que não responde por todos os desejos da alma humana, 
principalmente em seus contrastes, adornos e luxúria? 
É o mundo de desilusões e de indivíduos-em-desordem, 
no qual são poucos os privilegiados na esfera social.

Que mundo é este
no qual se alteram as suas substâncias,
e desalentam seus integrantes,
em nome daquilo que se diz ser progresso?
É o mundo em que não há pão suficiente e,
conseqüentemente, as espécies são extintas.

Que mundo é este
com lutas, temores
e o medo de uma guerra nuclear?
É o mundo dos covardes e/ou corajosos,
da inveja, de ruínas, do bem e do mal,
não havendo em todos a paz.

Que mundo é este
para o qual alguns não desejariam ter nascidos?
É o mundo dos ricos, dos pobres e dos nobres,
onde o capitalismo se difunde,
e a todos não satisfaz.
     
Que mundo é este
que comporta tantas dores... 
quando os tremores da terra engolem as gentes?
É o mundo das edificações
e de estátuas nas praças,
no qual o terremoto se desfaz.

Que mundo é este
contendo tantos mistérios
dos quais eu não sei dizer?
É o mundo em que a criança ao nascer exprime um choro;
o sol, a lua e as estrelas resplandecem.

Que mundo é este
com tantas interrogações às quais não consigo respondê-las?
É o mundo que por certo,
tem um Tribunal pela frente – 
do qual se emanará – o veredicto final.

Que mundo é este
que ninguém explica,
e nem as aventuras científicas haverão?
É o mundo dos certos e dos incertos,
no entanto, todos são corpos no mundo.
mas, o grande Arquiteto
tudo esclarecerá.

Que mundo é este?
é o mundo eu,
é o mundo você,
é o mundo nós,
é o mundo universo,
é o mundo de Deus.


Pelo autor em 1997 

Publicado em: 12/11/2010 03:58:28

 

TUDO PASSA

 

Passa a manhã

 Passa a tarde

  Passa a noite

   Passa o sol

    Passa a sombra

     Passa o rio

Passa o passarinho

 Passa o automóvel

  Tudo passa

   Passa móvel

    Passa o sonho

     Passa o medonho

Passa a saudade

 Passa a maldade

  Passa o calor

   Passa a dor

    Passa o “lobisomem” (... se existisse)

     Tudo passa

Passa o homem

 Passa a vida

  Passa de ida

   Tudo passa

    Passa em desfile

     Passa o amor

Tudo passa

 Passa o tempo

  Resta – o agora...

 

 LÁGRIMAS

 Elas manifestam aquilo que queremos dizer...

 Surgem porque há um choro condizente...

 E veementemente, espargem da pupila a fora.

 É nessa hora que o meu sentimento se faz vê.

 Por sua simples razão de ser, – é meu pranto, meu canto, meu sorrir!...

 Que agora se expressam naturalmente,

 Como quem transmite uma mensagem sem o uso das palavras.

 Só sei que sou vida, sou gente! – que vibra e sente...

 Os impulsos do amor...

 Pelas lágrimas sentidas.

 Jacobina, Bahia, 10/07/1988

 

A MORTE; A VIDA

Não se assuste!

A morte é o oposto à vida;

A vida é o oposto à morte.

As duas são antagônicas

E falam diferentes idiomas.

Quase não olham nos olhos,

Mas quando se fitam não se aceitam.

É o prenúncio do luto.

Elas nunca dão as mãos!

Seguem por caminhos diferentes...

Cada uma com sua missão.

A vida vem e se esvai;

A morte vem e se esvai.

Não são amigas,

Não são companheiras.

Vivem ciclos fora do controle humano.

Eu e você estamos vinculados a elas.

Por isso diz o pregador sacro:

Há tempo de viver;

Há tempo de morrer.

Também translitero do Apocalipse...

Que a vida segue depois da morte;

E que a morte um dia morrerá!

O controle desse duplo mistério

Não está em mim;

Não está em você.

É de um só:

Deus!

 

 

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